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No topo do Espírito Santo

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Nascer do sol tímido numa manhã de inverno no cume do Pico da Bandeira.

Em 1859, o então imperador Dom Pedro II, ordenou que a bandeira do império fosse colocada no ponto mais elevado do país, no alto da Serra do Caparaó, localizado na atual divisa do Espirito Santo com Minas Gerais, e assim “nasceu” o Pico da Bandeira. Cento e cinquenta e cinco anos depois, o Pico da Bandeira já não é o ponto mais alto do país. Hoje, a Bandeira é o 3o ponto mais alto do Brasil com 2892m, atrás do Pico da Neblina (2993m) e Pico 31 de Março (2972m). E a bandeira que outrora tremulava no cume nem existe mais, hoje uma grande cruz de concreto demarca majestosamente o ponto mais alto do Espírito Santo, além de uma torre abandonada e um “mini-cristo”. E todo entorno da montanha faz parte do Parque Nacional da Serra do Caparaó, abrangendo uma área de 26 mil hectares.

Na semana passada, tive que ir ao Rio de Janeiro à trabalho e na viagem de volta fiquei pensando o que faríamos no final de semana já que uma grande frente fria estava prevista para todo o estado. Enquanto olhava para fora do avião pensei: olha, que legal, acima das nuvens nunca chove! E ai pensei, se escalar acima das nuvens não vai chover! E onde isso acontece no ES? No Pico da Bandeira, o ponto mais alto do estado e de todo o sudeste! Assim, surgiu a ideia de subir o pico! Subir acima das nuvens para curtir o tempo bom e fugir da frente fria! A teoria era perfeita, mas a prática…

Para uma ideia tão furada assim, só o meu fiel escudeiro para as roubadas-mor, o DuNada. E para ajudar a rachar o gás, afinal de conta são 600km de chão, o ex-desertor das roubadas Danilo Monstro que nunca mais andou conosco depois de carregar um haulbag cheio d’água mato à dentro em plena noite de lua nova nos Cinco Pontões.

Partimos na 6a a noite. A ideia era rodar até Castelo, dormir lá e no sábado seguir viagem. De Vitória até a entrada do Parque são aproximadamente 300km de muita serra. Subindo com calma e parando de tempo em tempo, essa brincadeira consome aproximadamente 6h de carro. Chegamos no parque pelo lado do ES no sábado por volta das 14h. Como a subida seria apenas na madrugada de domingo, fomos curtir as cachoeiras. Confesso que naquele frio todo, curtir a cachu estava mais para banho revigorante do que um banho gostoso. Parecia que estava nadando numa piscina cheia de agulhas!

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Cachoeira dos Sete Pilões. Imaginem uma água gelada!

Montamos o nosso acampamento na Casa Queimada que fica a 9km da entrada do parque e ali tentamos, em vão, descansar até a 1h. Acordamos a 1h da madrugada e as 1h30 começamos a longa jornada de 4,3km até o cume da montanha sob a luz da lua e do headlamp.

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Acampamento Casa Queimada, 1h da madrugada. 

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Noite estrelada na Casa Queimada com a silhueta do Pico do Cristal (2770m) ao fundo.

A trilha pelo lado capixaba foi aberta em 1998 e garanto que foi aberta por um italiano dedo grosso porque a subida é direta, para cima, sem essa de ir subindo em ziguezague! Considerando que a trilha tem apenas 4km e levamos aproximadamente 3h para vencer um desnível de 700m, já dá para ter uma ideia da “trilha”. E se não bastasse ainda, o gringo veio esticou a trilha passando pelo cume do Pico do Calçado, 2849m. Ou seja, antes de chegar no cume da Bandeira, você ainda faz um outro cume antes.

Chegamos no cume por volta das 4h40, após 3h de caminhada. Como o sol iria nascer apenas às 5h30, montamos um pequeno puxadinho e ficamos congelando um pouco até o início do show. Infelizmente o dia amanheceu com muitas nuvens e o nascer-do-sol não foi 100%, mas mesmo assim foi impressionante. Com certeza, valeu todo o sofrimento para ver esse show da natureza.

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Caminhada noturna de manga curta, só para os fortes. 

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Bom dia! Acima das nuvens não chove! Não chove?

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Acima das nuvens, mais nuvens…

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No cume!

De madrugada, a trilha pode ser um pouco chata e puxada, mas na descida a gente descobriu o quão incrível é o visual ao redor. Assim descemos amarrarão do cume curtindo o visual, mas infelizmente durante a descida nos deparamos com muita sujeira pelo caminho. Durante a subida, como fomos os primeiros, não vimos muito lixo pelo caminho, no entanto durante a descida ficamos por último e sentimos o impacto causado pelos visitantes porcos. Pela primeira vez na minha vida, tive que descer recolhendo o lixo dos outros porque a cena era triste demais. Aquele lugar tão bonito não merecia aquilo. Na verdade, a quantidade de gente despreparada e mal educada que frequenta aquele lugar é impressionante. Gente gritando pela trilha e no cume então… Quando você entra na igreja você sai gritando? Pois então, para nós montanhistas, o cume de uma montanha é um lugar sagrado de reflexões e não de gritaria…. E para piorar mais ainda, na última 6a feira, o Globo Repórter fez o desserviço de mostrar o parque em cadeia nacional numa matéria rasteira que não mostra nem um milésima do que é o parque. Até já estou imaginando como será o próximo final de semana depois dessa matéria… Quando vejo esse tipo de cena, às vezes, entendo os eco-xiitas. Entendo porque alguns parques são fechados ao público. Só não acho certo eu pagar o preço pela má conduta dos outros… Enfim… Viver em sociedade é assim…

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Dicas para subir no Pico da Bandeira pelo lado do ES

  • Antes de mais nada é bom saber que pelo lado capixaba a subida é mais curta (4,3km), mas muito mais puxada (700m de desnível). Em compensação o visual da caminhada faz esquecer qualquer sofrimento, pois a trilha transcorre, em sua grande maioria, pela crista da serra;
  • É recomendável fazer uma reserva prévia, por telefone, e deixar o nome numa lista antes de ir ao parque. Se a ideia for apenas para passar o dia, não tem problema, mas se for para acampar é recomendável ligar antes, pois há limite de lotação. E se a área de camping estiver cheia e não tiver reservado, não poderá acampar dentro do parque;
  • No inverno, o parque abre das 7h às 22h. Se você se hospedar fora do parque e quiser subir de madrugada, é preciso chegar antes do horário de fechamento;
  • É cobrado uma taxa de R$ 18,50 por pessoa para quem quiser entrar e acampar dentro do parque. O pagamento é feito na hora, em dinheiro;
  • Não é permitido entrar no parque com bebida alcoólica. Na entrada principal há revista nas malas e dentro do veículo;
  • Da entrada do parque até os acampamentos (Macieira e Queimada) são mais 3km e 9km respectivamente. A maioria dos carros normais sobe com alguma dificuldade esse trecho final, pois a estrada está com paralelepípedo nos trechos mais complicados, mas um carro mil lotado não irá passar as subidas mais íngremes;
  • Se você tiver pena do carro, poderá contratar um serviço terceirizado de jeep que faz esse translado;
  • Na área do camping há banheiro, pia/cozinha comunitária e água corrente. Também há um posto do parque onde fica uma pessoa tomando conta durante a alta temporada;
  • A trilha até o cume da Bandeira tem 4,2km de extensão e um desnível de aproximadamente 700m. O tempo médio para quem está acostumado a caminhar é de aproximadamente 3h com várias paradas ao longo do caminho;
  • A trilha é toda sinalizada com setas pintadas no chão e estacas reflexivas ao longo de toda a trilha. Não tem como se perder nela, desde que esteja levando uma lanterna! Pasmem, tem gente que sobe, a noite, sem lanterna;
  • Durante o inverno realmente faz frio na região. Por isso é muito importante ir bem agasalhado. Vale lembrar que o camping fica numa área mais baixa e protegida dos ventos. O fato de estar “quente” e sem vento não quer dizer necessariamente que na trilha e no cume estejam a mesma coisa. A trilha passa a maior parte do tempo pela crista da montanha onde venta bastante. No cume, não há área protegida em caso de vento;
  • A caminhada é bem exigente e não raras vezes bem molhada. Um par de bastão de caminhada e uma bota impermeável são fundamentais para aproveitar bem a caminhada;
  • Durante a madrugada, o sereno e a chuva fina, que às vezes cai, deixam tudo molhados e é comum chegar com os pés e as roupas molhadas no cume, aumentando ainda mais o frio;
  • Um saco de dormir e um isolante térmico (compartilhado) são uma boa ideia para levar ao cume. Assim é possível de esperar o sol nascer mais confortavelmente;
  • Trazer de volta TODO O LIXO produzido! E se possível dos outros também!
  • E também não precisa gritar para o Deus e o mundo que chegou no cume! Lá pega 3G, manda uma mensagem no Face que mais pessoas saberão que você está lá;
  • O parque não oferece nenhum serviço de resgate. Você estará por conta e risco! Nunca se esqueça disso! Se acontecer alguma coisa e tiver que pedir socorro irá demorar muito tempo. Por isso, a dica é nunca se expor à riscos desnecessários;
  • Se ao ler tudo isso, não se sentir apto para subir a montanha sozinho, contrate um guia.

Valeu DuNada e Monstro!!!

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Uma resposta em “No topo do Espírito Santo”

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