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Tentando me redimir…

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Gillan na chaminé da 1a enfiada da via “Nem tudo está perdido”.

A última vez que estive pelas bandas de Itarana fui com o Gillan para repetir a via “Eu sou a lenda” em Praça Oito. E durante a longa viagem de Vitória até Itarana (120km), o Gillan me contou os seus planos que não deram certo nessa região.

O Gillan e o Muriqui foram os primeiros escaladores que abriram, e concluíram,  uma via (Par ou Ímpar) na região de Praça Oito, embora o Baldin e CIA tenham começado antes as conquistas, eles ainda não terminaram essa via. Naquela ocasião, a dupla estava muito entusiasmada com a ideia de poder conquistar várias linhas na região. Eles ficavam divagando sobre o potencial da região e esboçavam linhas imaginárias nas inúmeras pedras que têm na região.

Só que por uma obra do destino, a dupla teve alguns problemas não pode retornar à região tão logo quanto desejava. Nesse ínterim, uma patota formada por um japonês, um italiano e um judeus “invadiu a região” e saiu abrindo vias “à reveria” acabando com os planos originais da dupla.

Então para me redimir um pouco dessa história, e para que justiça seja feita, convidei mais uma vez o Gillan para voltar à região, mas dessa vez para abrir uma via. A linha que eu tinha em mente era uma daquelas linhas que sempre olhávamos, falávamos, mas que nunca concretizávamos. Provavelmente porque sabíamos que ia dar trabalho. Mas como dizia o Amyr Klink, “um dia é preciso parar de sonhar (fazer corpo mole) e partir”. E assim fomos, eu e o Gillan, no último sábado, para a Parede dos Sonhos abrir uma via no grande diedro laranja!

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A linha da via pelo grande diedro laranja.

A linha da via é bem óbvia, começa num diedrão até um grande platô e depois escolhe uma das duas fendas que levam ao cume.

Começamos a escalada por volta das 9h da manhã solando um pequeno trecho de aderência para ganhar um platô grande que dá acesso ao grande diedro. Iniciei os trabalhos conquistando o diedrão em oposição até a fenda virar uma chaminé estreita. Fui me rastejando até onde estava divertido e quando o situação começou a não ficar mais divertido, vislumbrei uma boa linha de agarras por fora da chaminé e sai em livre pela face até chegar na P1.

Logo em seguida, o Gillan pegou a ponta da corda e seguiu mais um pouco pela face, para logo em seguida, voltar ao diedro num trecho que a fenda estreitava mais e permitia escalar em móvel até chegar na P2. Mas isso, sem antes passar pelo crux da via: um trecho estranho no final do diedro, antes de dominar o grande platô, para o desespero do segue que não conseguia ver nada e só ficava ouvindo os gritos lá de baixo tentando entender se ele estava prestes a cair ou fazendo força para passar o lance!

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Gillan iniciando a 2a enfiada sob o sol do inverno, ou seja calor!

Passado o susto, sabíamos que dali para cima seria somente uma burocracia para chegarmos no cume, mas antes precisávamos decidir se iríamos pela fenda da esquerda ou da direita. Da base da via não ficou claro qual das duas fendas seria a melhor e da P2 tão pouco ficou claro, então só me restou decidir na hora. O fato é que acabei indo para a fenda da esquerda que parecia ser mais promissora. A da direita tinha menos mato, mas também parecia ser mais aberta. Por sorte, a fenda da esquerda era muito boa e consegui esticar mais 55m sem grandes problemas até a P3, exceto pelo trepa-galho final!

Eu sou muito traumatizado com trepa-galho em via. Por volta de 1997, eu estava escalando uma via mista, em solitária, em Ivoti – RS. E lá pelas tantas, após proteger um lance com uma peça num platô fui em direção a um tetinho para fazer a virada. Agarrei-me numa árvore e comecei a liberar corda para costurar um grampo. Depois de puxar bastante corda, quando fui passar a corda na costura, a árvore se descolou da pedra e fui com tudo para baixo. Piquei no platô, rolei mais um pouco e fui parar de cabeça para baixo na base da via. Por sorte, o sistema de auto-segurança, que eu inventei com 2 mosquetões, funcionou e não fui para o céu prematuramente!

Da P3 já dava para sentir o cheiro do cume. Parecia que era logo ali, uns 10m para cima, mas a experiência me ensinou que quanto achamos que estamos perto, na verdade estamos longe. Dito e feito, os 10m do logo ali viraram 55m e chegamos no cume já com os últimos raios de sol iluminando a pedra.

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Batendo no cume após o entardecer! 

Pelo menos foi uma chegada triunfal, mas com um preço a pagar, rapelar tudo de volta no escuro!

A escalada não teve grandes percalços, nem perrengues. Foi uma conquista tranquila e agradável sob o sol (menos escaldante) do inverno.

Valeu demais Gillan! Espero ter me redimido um pouco!

Croqui

2015.05.24_Nem tudo esta perdido

A via começa com um pequeno solo para ganhar um platô suspenso. É possível subir de tênis, desde que o mesmo seja adequado.

1a enfiada – Começa em oposição protegendo em móvel até a fenda alargar e virar uma chaminé. Quando a chaminé voltar a ficar apertada novamente, sai à esquerda, pela face, buscando as agarras até chegar na P1.

2a enfiada – Segue ainda pela face, protegendo em chapas, até virar o trecho mais vertical para então voltar à fenda e seguir por ela em oposição, protegendo sempre em móvel. O crux está no final da oposição, antes de virar o platô.

3a enfiada – Começa acima da parada dominando um balcão para ganhar um platô. Segue em travessia à direita protegendo em árvore e depois segue em diagonal à esquerda, pela face, até a base da outra fenda. Nesse trecho há uma chapa no meio da diagonal. O trecho fendado tem um pouco de vegetação e as colocações são razoáveis. O lance mais chato fica um pouco antes de dominar uma árvore caída.

4a enfiada – Segue pelo diedro até ganhar um platô, depois caminha pelo platô até a 3a árvore e mira para cima em leve diagonal à esquerda até achar uma chapa. Dessa chapa até a parada, a melhor forma é contornar pela direita para ganhar um platô que está logo acima, um pouco antes do cume de verdade.

Rapel

Descida com 2 cordas de 60m de parada em parada. As paradas, P4 3 P3 estão com duas malhas e uma fita. As paradas P2 e P1 estão com um mosquetão e uma fita.

Equipos para repetição

  • 2 cordas de 60m;
  • 1 jogo de friends (#.75 – #6);
  • 1 jogo de nut grande;
  • Fitas longas para proteção natural;
  • 5 costuras.

Comentários

Uma resposta em “Tentando me redimir…”

Malditos ladrões de cumes! Ainda lembro do meu desespero, em 2013, quando certa vez me encontrei com o japonês no supermercado e ele disse: “estamos indo à Praça Oito conquistar umas 10 vias”. E eu pensei: “Nãoooo!!!” Mas pelo visto nem tudo está perdido!

Valeu demaisss Naoki-san, a via ficou irada!!! E depois me mostra seu sistema de solitário minimalista!

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