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Roadtrip Espanha, reflexões…

Entardecer em Siurana.

Foram anos de espera;

Meses de planejamento;

Dias de treino;

Horas de voo;

E em segundos a realização de um sonho!

Tenho por filosofia não fazer planos a longo prazo, pois sou partidário da ideia de que “vida é aquilo que acontece enquanto a gente planeja o futuro”.

MAS, lembro ainda como se fosse ontem, o dia que estava treinando na casa do Guili/Léo, lá em Porto Alegre, entre uma escalada e outra, que folhava uma revista Escalar que falava sobre a escalada na Espanha. Olhava as fotos, ficava viajando e pensei comigo mesmo: ainda vou escalar na Espanha!

Os anos se passaram, estudos concluídos, um emprego, mais um pouco de espera e finalmente chegou o dia de parar de planejar/sonhar e partir!

O planejamento, como não poderia ser diferente, foi bem trabalhoso e conturbado como não poderia deixar de ser… Fechar data, fechar parceria e quando tudo parecia que ia dar certo, ainda quebrei os dois pés…. Reviravolta no planejamento, mais um pouco de stress com o passaporte (greve da PF) e aos 45 do segundo tempo, partirmos, eu e o Felipe (Alves) para ver e sentir com os nossos próprios olhos o que é a escalada na Espanha!

Barcelona

Barça foi o nosso portão de entrada para o Pais de Roca! Ok, os espanhóis também adoram futebol como os brasileiros, mas a gente sabe que está no país da escalada quando encontramos uma revista Escalar numa banca qualquer de revista! Ou quando vai à farmácia, pede esparadrapo e a atendente pergunta: é para escalada?!

Chegamos em Barcelona e salvamos o nosso terceiro integrante, Sílvio “Coisinha”, da Esbórnia! Botamos ele no carro e partimos sem, nem ao menos, ver as obras de Gaudi ou provar uma paella, rumo ao nosso sonho, Siurana!

Siurana

Siurana dispensa qualquer apresentação. Quem escala a um tempo sabe o que representa. Com certeza é o sítio de escalada mais importante da Catalunia, da Espanha e do mundo! Por lá passaram grandes escaladores e fatos importantes que marcaram a história de escalada esportiva mundial aconteceram!

Felipe Alves trabalhando a via Bistec de Biceps (8c), Setor L’Olla, Siurana.

Por ser uma escola antiga, não preciso nem dizer que a graduação de Siurana é um pouco mais dura do que a média. No início sofremos um pouco, mas aos poucos fomos achando o ponto certo e começamos a tomar menos pau das vias.

Para mim, Siurana foi a realização de quase uma vida. Lembro de assistir incansavelmente o Master of Stone 3 e ficar viajando nas vias e escaladas pela Europa. Por isso, ver pessoalmente a via La Rambla, a Anabolic e conhecer o ex-rasta Toni Arbonés foi como voltar a ser aquela criança que escalava até tarde da noite no Behne!

La Morera del Montsant

Quando decidimos que iríamos para Siurana, entrei em contato com o amigo de longa data, o Ricardo Canguçu para ver se a gente marcava alguma escalada junto. Encontramos com ele em Siurana e ele nos disse: Vou levar vocês para um lugar que vocês jamais iriam se não tivessem alguém para levá-los, La Morena del Montsant!

Coisinha avistando a via Purolític (7c), Setor El Racó de Missa, La Morera del Montsant.

Como ele disse aquilo com tanto entusiasmo nós nem falamos nada e partimos. Meia-hora de carro entre subidas e curvas fechadas, mais meia hora de caminhada, sempre para cima, pagando todos os pecados e xingado o Ricardo e finalmente chegamos ao Racó!

Eu acho que devo ter mal-tratado o Canguçu em 2001 quando fizemos uma trip pelo Chile e onze anos depois ele resolveu se vingar levando a gente para aquele Racó! Caminhar naquele sol, morro acima não se faz com os amigo, hehehehehe…. Mas devo confessar que a caminhada valeu a pena, pois o conglomerado de La Morena é de primeira qualidade! As vias são alucinantes e infinitas! Você escala, escala e escala não vê a maldita parada. Só vê o ante-braço bombando….

Rodellar

Depois de levar espanco em Siurana, partimos para Rodellar em busca de novos ares e mais espancos.

Rodellar é atualmente, segundo o site 8.nu, o principal point de escalada da Espanha. Durante o verão, o pequeno povoadinho super-lota com milhares de escaladores que vêm de todas as partes do mundo para provar os mega-desplomes de calcário!

Tivemos a sorte de chegar no final da temporada e encontramos menos gente em Rodellar. Só alguns gatos pingados e alguns brasileiros “fanaTHC”.

Vale de Rodellar. Com os setores, da esquerda para à direita, Gran Bóveda, Pince Sans Rire, Las Ventanas e Delfín.

Um argentino definiu muito bem como é escalar em Rodellar: es como remar em dulce de leche! Foi exatamente assim que me senti nas vias de Rodellar. As agarras eram boas, mas as remadas eram pesadas, as buscadas longas e o braço pesado o tempo todo! Confesso que a certa altura do campeonato comecei a sentir saudade das placas duritas de Siurana. Quer dizer, não sei o que era pior, as placas ou as remadas…. Mas Rodellar é absolutamente incrível, as covas são absolutamente intimidadoras e as vias infinitas, um verdadeiro paraíso da escalada em negativo!

Margalef

Um dia antes de partir de Rodellar, São Pedro aplicou uma peça e tivemos que fazer uma mudança de plano de última hora. Como o Felipe teria de voltar antes para o Brasil, partimos para Barça na 4a feira, deixamos o no aeroporto na 5a de manhã bem cedo e partimos para Margalef para mais dois dias de escalada em Margalef!

Ricardo Canguçu trabalhando a via Sàtiva Patàtica (9c), Setor Racó de les Tenebres, Margalef.

Já tínhamos provado os conglomerados no outro lado da serra de Montsant em La Morena, então sabíamos que as escaladas em Margalef seriam muito boas!

Margalef é uma área de escalada relativamente nova, embora a escalada nessa região já tenha alguns anos de história. Mas o grande boom do local veio com a abertura de novas vias principalmente pelo escalador local e dono do refúgio Jordi Pou Calvet e pelas vias duras como o Gancho Perfecto, Demência Senil e “First round fist minute”.

Margalef também tem fama de ser uma escola onde as vias estão em promo. Então, após levar bastante espanco em Siurana e Rodellar foi até bom para o ego escalar em Margalef, mesmo sabendo que estava se enganando com a graduação. Mas independente da graduação super-cotada, as vias de Margalef são de um beleza única. Os tridedos, bidedos e monodedos (!) são um show à parte em Margalef. Lá você pega um buraco bom, se lança num bidedo profundo, cata um monodedo e busca longe um outro monodedo sem estar num sonho ou assistindo um filme, tudo assim ao alcance de nós menos mortais! Amazing!

Escalar na Espanha foi a realização de um sonho, mas acima de tudo um grande aprendizado. Novas escaladas, culturas diferentes, estilos de vida diferentes, novas amizades… Tantas coisas em tão pouco tempo que ainda estou assimilando tudo que aconteceu nos últimos dias, mas aos poucos vou digerindo tudo…

Fotografia

Fotografar e escalar ao mesmo tempo são coisas que não combinam. Ou você escala direito ou fotografa direito. Não preciso nem dizer por qual opção eu fiquei… Mas mesmo assim me esforcei para registrar as coisas legais que aconteceram nessa trip. Dessa vez tentei ser menos técnico nas fotos e fui com mais espírito de registrar os acontecimentos naturalmente. Achei que as fotos ficaram ruim, mas depois em casa, vendo as com calma, gostei dos resultados. Dentro de um universo de 300 fotos, separei umas 80 e com muito esforço separei mais 26 para publicar aqui! Para acessar as fotos da trip, clique aqui! Espero que gostem!

Special thanks to:

Aos brothers de trip Felipe Alves e Coisinha; ao Canguçu e família por nos apresentar lugares incríveis; E aos FanaTHC´s de Rodellar: Pablo, Schen, Pita e CIA.

Gato arisco em Margalef.

Comentários

2 respostas em “Roadtrip Espanha, reflexões…”

Beleza Naoki …
Que massa que curtisse a trip … foi massa escalar contigo outra vez … estamos aqui, esperando outras visitas 🙂
Show de bola as fotos … e a reflexao …
Abraço

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