A última cartada: frustração – 2a investida

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DuNada na 2a enfiada da via.

Se terminamos 2013 conquistado mais uma montanha no ES, começamos 2014 do mesmo jeito, conquistando, ou melhor, dando continuidade.

Assim, eu, Afeto e DuNada começamos o ano a partir do ponto de onde acabamos 2013, a 5a enfiada da via “A última cartada”.

Passamos a semana montando uma estratégia para encarar a montanha no final de semana. O plano era chegar na montanha no sábado à tarde, escalar até a 5a enfiada, fixar corda, descer até o platô e dormir ali. E no dia seguinte: ataque ao cume. Mas era só um plano, uma estratégia.

Saímos de Vitória pontualmente ao meio-dia de sábado. Catei o Afeto e o DuNada e partimos rumo a Castelo (150km). Animação total no carro, piadas e conversa fiada até os meninos serem vencidos pelas curvas e ficarem enjoados… (ninguém vomitou)

Chegamos na casa da família Laquini por volta das 15h. A família Laquini é uma família ímpar. Sempre somos tão bem recebidos que, às vezes, me sinto em casa. Como uma boa família italiana, muito papo-vem, papo-vai e só lá pelas 17h estávamos na base da via sob um calor insano.

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Aproximação pesada. 16L d’água, equipamento de conquista, 2 cordas mais comida.

A meta era escalar até a 5a enfiada. As primeiras 3 enfiadas eram bem tranquilas, 4o grau com um crux de 6o no final. Mas logo descobrimos que a combinação sol escaldante e mochila pesada, seria fatal. Chegamos exaustos no platô.

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Alguma dúvida de que a mochila estava pesada?

Descansamos mais um pouco até escurecer e partimos para a 5a enfiada à luz dos headlamps. Mesmo depois de o sol se pôr, ainda dava para sentir o calor da pedra. Escalamos a 5a e a 6a enfiada e descemos pelas cordas fixas até o platô.

Matamos um pratão de massa com molho de cimento e caímos duros na rede por volta das 22h.

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Cardápio da noite, massa ao molho branco com frango.

Obviamente a noite foi mal dormida, pelo menos para mim e para o Afeto, mas o DuNada roncava alegremente na rede para o nosso desespero.

4h30 de domingo! Toca o despertador do meu celular!

Ainda no escuro tomamos um café da manhã reforçado (pão com requeijão. O café, alguém esqueceu) e partimos para as cordas fixas à luz das lanternas.

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Exercício matinal: Jumareada!

Assim que batemos na P6 amanheceu e parti para a conquista da sétima enfiada. O trecho era tão liso que ficávamos brincando de jogo dos sete erros (agarras). Ganhava quem achava primeiro 7 agarras naquela paredão de granito salpicado.

Sabíamos que esse trecho seria o crux da via, mas não esperávamos que fosse tão complicado. Uma coisa é escalar uma sessão sem agarra, outra coisa é ter que conquistar uma parede de pura aderência e equilíbrio. Em trechos assim, bater uma chapa exige muito equilíbrio e sangue frio, pois não tem como parar em cliff ou segurar numa agarra para puxar a furadeira. Sem contar o medo de cair com com a furadeira na mão.

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Arrumando os equipos na P6.

Se a 7a enfiada foi ruim, a 8a foi igualmente terrível. Deu até pena do Afeto que teve que assumir a ponta da corda. Mas o garotinho mandou bem e fechou mais uma enfiada de 7o grau de uns 30m.

Mesmo começando a escalar cedo, quando chegamos na P8 o sol resolveu mostrar a cara. Pelo menos, conforme o planejado, conseguimos passar pelo pior trecho conquistando na sombra. A partir dali seria na raça e determinação continuar a conquista sob o sol escaldante.

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Chapas!

Conquistei mais uns 30m de terreno tranquilo até culminar num crux de 7o ou A1 de buraco de cliff e bater a P9. Nesse momento chegamos numa sinuca de bico, pois a nossa frente, uma muralha de granito vertical e lisa sem nada, absolutamente nada.

E agora quem poderá nos salvar???

Eu, Roney Colorado!!!!

Batedor na mão e buraco de cliff nele!!!

Assim, sob um sol trincante o DuNada conquistou mais 15m em buraco de cliff até a pedra perder inclinação. O Afeto conquistou mais um pedaço e assim fechamos a décima enfiada. Dali para cima, a pedra se mostrou mais amigável, mas por causa da seção mais dura abaixo, acabamos gastando mais chapas do que o esperado e ficamos sem chapa e bateria. Ficamos olhando desolados para o cume tão próximo (120m de costão estranho), mas não teve jeito, tivemos que bater em retirada e deixar o cume para uma próxima investida.

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DuNada no trecho mais vertical da via.

Descer 10 enfiadas, sem ter feito cume, sem força, sob o sol e após 12h de escalada não foi nada agradável. Ainda bem que para baixo todo santo ajuda.

Pela primeira vez voltamos de Castelo a Vitória sem ninguém dar um pio dentro do carro. Em silência por 3h. Todo mundo morto, menos o motora só podia cochilar nas retas.

Chegar no cume de uma montanha é importante, pois é a coroação de um grande trabalho em equipe, mas o processo que nos leva ao cume também é importante. Pelo menos, assim penso para manter a motivação e já ir pensando na próxima investida. Pensando numa estratégia de ataque e pensando em como será mandar aquelas enfiadas duras de 7o a 250m do chão!

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Sendo recebido pela família Laquini com um pratão de massa pós-conquista!!! Não tem preço!

Agradecimento mais que especial à família Laquini (agora sei o nome) por sempre nos receber de braços abertos. E aos meus colegas de cordada, Afeto e Roney por mais uma aventura pelas montanhas capixabas. Em fevereiro voltaremos!

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Croqui parcial da via. Faltou pouco, muito pouco!

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O mesmo sol que nos castiga, nos proporciona um visual incrível no final do dia. 

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