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Califórnia 2022

Em geral, costumo não escrever durante as viagens porque nunca arrumo tempo, mas dessa vez farei um esforço, pois observei que muitas memórias ficam perdidas quando escrevo depois. Sabe como é a idade né?

Saída 

A nossa vinda para os EUA não foi das mais tranquilas, ou melhor, menos trabalhosa. Como compramos uma passagem barata, tivemos que “engolir” várias conexões.

Ainda no Brasil tivemos que ir de Vitória (ES) para Congonhas (SP) e depois fazer uma “baldeação” para Guarulhos à noite. Depois de uma semana pré-férias, quando as demandas de última hora parecem brotar do nada, não foi nada fácil chegar a Guarulhos às 22h.

Às 3h da madrugada saímos de Guarulhos para o Panamá, num longo voo de 7h. Do Panamá, a próxima perna foi para Denver (CO) e já nos EUA, mais 6h de voo.

Em Denver tínhamos uma conexão de 2h para Las Vegas, nosso destino. Quem já entrou nos EUA sabe que 2h é um tempo muito curto.

Assim que o avião pousou, o cronômetro foi acionado, mas ainda no “taxi”, o avião parou e o piloto anunciou que teríamos que esperar 10 minutos para liberar um finger. Dez minutos depois, mais 15 minutos, depois mais 15 minutos. Só sei que a brincadeira nos custou 1h dentro do avião. Faltando 1 hora para o próximo voo já deu para imaginar a corrida…

Corremos onde dava e fizemos a migração, redespachamos as malas, fizemos uma troca de terminais via trem e por fim, um sprint final até o portão. Só lembro que faltando uns 50 metros para o portão ouvi o meu nome no sistema de áudio! Entramos no avião ofegantes e ninguém mais entrou após nós, éramos os últimos.

Chegamos em Las Vegas às 21h e ainda fomos alugar o carro. Dali fomos direto para o hotel descansar um pouco. Nada de cassino na primeira noite!

Mapa do roteiro.

Red Rock

Acordarmos sem pressa e passamos a parte da manhã terminando os preparativos finais: comprar comida, gás e mais umas bugigangas que só a terra do Tio Sam oferece.

À tarde fomos em direção a Red Rock Canyon. Nossa ideia original era voltar a Death Valley, mas no mês passado um temporal varreu vários trechos da estrada e o parque ficou com acesso restrita. Com isso, não tínhamos como chegar no nosso hotel programado.

Red Rock é um parque famoso pelas escaladas, mas também por uma feição geológica conhecida como falha de empurrão (thrust), onde os esforços tectônicos compressivos podem colocar camadas de rocha mais antiga sobre a mais nova. Na geologia aprendemos que as rochas mais antigas sempre depositam uma sobre as outras, ou seja, a rocha mais antiga sempre estará na base de pilha e a mais nova por cima. Salvo algumas exceções como essa. Em Red Rock isso ocorre e tem até nome: Keystone Thrust. Com os famosos arenitos vermelhos de idade Jurássica sobrepostos por camadas calcárias do Cambriano, formando um hiato de aproximadamente 300 milhões de anos. Para nós brasileiros que moramos num país geologicamente antigo, embora exista, esse tipo de feição é bem difícil de observar. Então essa foi a oportunidade da vida. Diretamente dos livros de geologia para realidade.

Figurinha esquemática mostrando o KeyStone Thrust.
Entardecer em Red Rock enquanto visitamos o Keystone Thrust.
Red Rock!
Nosso acampamento em Las Vegas, nada de cassino nem strippers. O nosso site é o primeiro de baixo.
Nós e o thrust.

Comida de urso

No dia seguinte fizemos uma longa e belíssima viagem de Las Vegas até Mammoth, já na Califórnia. Para nós que somos geólogos de profissão, a vontade era parar em todos os “barrancos” para ficar vendo as rochas, mas tivemos que nos contentar com o que os geólogos chamam de “geologia Apache” que é descrever a rocha olhando de longe.

Chegamos a Mammoth e fomos para o Twin Lake Campground, já dentro das montanhas da cadeia de Sierra Nevada. Montamos as barracas e fomos dar uma volta para tentar avistar alguma vida selvagem. Mal saímos da área do camping e avistamos um urso pardo descansando tranquilamente na grama. De longe, ficamos apreciando o bicho e fotografando. De repente, o “senhor urso” levantou e veio em nossa direção. Fui recuando devagarinho. A Paula, a essa hora já estava “lá na casa do chapéu”. O urso foi em direção ao camping e rolou um alvoroço geral. Gente gritando e correndo para todos os lados. No meio do corre corre o urso achou o acampamento de uma família chinesa que não teve tempo para guardar as comidas nas caixas de urso. E lá foi o bicho garantir a janta. Não os chinas, mas a janta dos chinas. Depois que o urso jantou a comida deles, os chineses tiveram que ir para cidade jantar num restaurante. 

Ah, nessa noite, a Paula dormiu no carro porque ela achou que o urso voltaria a noite. Eu dormi na barraca e sigo vivo.

Urso pardo em Mammoth, antes de atacar o acampamento.
Passeio matutino pelo camping. Procurando urso, na verdade.
Amanhecer em Marmmoth lake.

Mono Lake

No dia seguinte ao incidente dos ursos fomos passar o dia no Mono Lake, um grande lago alcalino que fica no meio do deserto. Eu acho que para quem não é geólogo o lago é ok. Tanto que a atração principal do lago é a observação de aves. Do ponto de vista geológico é um grande análogo para os famosos campos de petróleo do Pré-sal do Brasil, por isso acabamos aproveitando a visita para fazer diversas observações ao longo de todo lago. Visitamos os principais afloramentos, fizemos fotos e observações, praticamente um trabalho de campo.

Tufas calcáreas de Mono Lake.
Passeando entre as tufas.
Mono Lake.

Yosemite Valley

Depois de um dia de geologia, o nosso próximo destino foi o Vale de Yosemite,  passando por Tuolumne Meadows. Infelizmente devido às obras de pavimentação não conseguimos aproveitar bem a região, mas deu para matar a saudade e relembrar a trip de 2014 quando passamos uma semana na região escalando.

Descemos para o Vale à tarde e fomos direto para o nosso acampamento. Depois obriguei (eu não escrevi essa parte) a Paula a passar no Camp 4 para um “remember” e para tentar encontrar os brazucas. Mais para o final do dia fomos no Tunel View refazer a famosa foto do Ansel Adams, mas não ficou legal…

No segundo dia em Yosemite seguimos explorando a região e revisitando algumas áreas. Voltamos ao Camp 4 e encontramos os “piás” que estão representando o Brasil na escalada (Daniel, Eduardo e Minch).

A tarde ainda fomos no Mariposa Groove e finalizamos o dia no famoso Yosemite View, mais um ponto consagrado pelo Ansel Adams. É a foto que abre que o post.

No último dia no Vale acordamos cedo para fotografar mais um pouco e procurar um pouco de wildlife, mas não tivemos tanta sorte e nada de urso. Desmontamos o acampamento e seguimos rumo a San Francisco. Com isso atravessamos toda a cadeia da Sierra Nevada fazendo uma seção geológica de livro!

Half Dome ao amanhecer.
Os sempre onipresentes esquilos se preparando para o longo inverno.
Half Dome ao amanhecer.
Um pouco de vida selvagem.
Passeando em Mariposa Groove.
Entre as sequóias.
Foto clássica no El Cap

San Francisco

Passar férias em cidade grande não é a minha praia, mas “havia San Francisco, San Francisco havia, no meio do caminho havia San Francisco”. 

San Francisco foi bem o que tinha imaginado: cidade grande, muito carro, gente pra caramba. A cidade é incrível, mas não sei se moraria. Fizemos aquele turismo básico pelas atrações da cidade (Golden Gate, Alcatraz, sorvete…) sempre com um pingo de preocupação, pois em todos os lugares havia placas falando para não deixar nada de valor no carro e também fomos avisados pelos brasileiros de Yosemite sobre esse risco.

No fim deu tudo certo!

A tarde começamos a famosa Pacific Coast Highway que liga San Francisco a San Diego e segue margeando a costa entre as montanhas e o mar. Assim fomos até a pacata cidade de Santa Cruz, destino dos surfistas e cidade natal do famoso escalador Chis Sharma.

Famosos bondinhos de San Francisco.
Golden Gate, o cartão-postal de SF.
Prisão de Alcatraz.
San Francisco no reflexo da janela de Alcatraz.

Big Sur

No dia seguinte saímos de Santa Cruz rumo a Big Sur. É um trecho curto de uns 120km, mas com muitas paradas (Montrey, Carmel, etc.), o que acabou tomando bastante tempo.

O ponto alto do dia foi, sem dúvida, o McWay Fall, uma famosa cachoeira que cai direto no mar. Desde que planejamos essa viagem em 2019, antes mesmo da pandemia, queria fotografar essa cachoeira. Chegamos no local já ao entardecer, então foi um pouco corrido, mas deu para curtir o momento, fazer a foto e agradecer por tudo dar certo.

A noite voltamos 12 milhas até um camping (Pieffer campground) onde passamos a noite.

Entardecer em Santa Cruz.
No pier de Santa Cruz. Foto: Paula Dariva.
Região de Big Sur ao amanhecer.
Ponte Bixby Creek.
Famosa cachoeira McWay.
Leão Marinho tomando um Sol em Santa Cruz.
Entardecer em Big Sur.

San Andreas Fault 

Até então, esse foi o dia mais longo e puxado em termos de deslocamento. Saímos de Big Sur serpenteando uma estrada cheia de curvas com paisagens de filme e muitos pontos de observação de leões marinhos até San Luis Obispo. Ali, saímos da PCH e entramos no California Valley para visitar o afloramento “Wallace Creek” onde a falha de San Andreas descolou o curso de um rio seco. Esse afloramento é bem famoso no mundo da geologia e sempre é exemplo de livro. Deu um trabalhão ir lá, mas valeu a pena. Sem dúvida é um dos afloramentos mais especulares que já visitamos.

Depois saímos pelo outro lado do vale e ainda conhecemos o maior campo de petróleo da Califórnia. Dali tocamos até Santa Clarita onde passamos a noite em um hotel.

Falha de San Andreas em Wallace Creek.
Falha de San Andreas perto de Maricopa.

Los Angeles

Los Angeles era uma incógnita. Sempre ouvi falar meio mal da cidade. Ouvia que San Francisco era mil vezes melhor, que LA era feio e tal, mas queria ter a minha própria opinião.

LA não é feia. Diria que é melhor que qualquer cidade do Brasil. O problema é que o sarrafo aqui é alto, então acaba ficando para trás. Para mim, LA é uma típica cidade americana que vive no mundo da fantasia. E o símbolo máximo é Hollywood e toda a rede de entretenimento associada às produtoras. Para quem é cinéfilo, LA é o paraíso. Como eu não sou, a cidade é OK.

A única coisa que realmente não gostei de LA foi o trânsito. Parece que é véspera de feriado todos os dias. Muito carro! Um pouco estressante, eu diria.

Para o nosso perfil, a coisa mais legal de LA foi o La Brea, não o bairro, mas o museu Tar Pit. Para um casal de geólogos, o museu foi uma visita fascinante. La Brea, em espanhol significa piche, é um “brejo” onde o óleo (piche) exsuda desde a última Era do Gelo. Inclusive o lugar tem um cheiro bem forte de óleo. Nesse brejo cheio de óleo, os animais acabavam ficando presos e morriam, formando um verdadeiro cemitério pré-histórico. Praticamente tudo que sabemos sobre a fauna e a flora do Pleistoceno da América do Norte sabemos graças aos fósseis do La Brea Tar Pit, tamanha riqueza do conteúdo fossilífero. Para se ter uma ideia, foram recuperados 1600  lobos pré-históricos e 380 Mamutes Americano. Tudo isso numa área menor que um campo de futebol.

Píer de Santa Mônica.
Mamute no museu Tar Pit.
Exsudação de óleo e metano no Tar Pit.
Entardecer no observatório de Los Angeles.
Símbolo máximo de Los Angeles.

San Diego

No dia seguinte pegamos a estrada rumo a San Diego, mais ao sul, já quase na fronteira com o México.

San Diego é uma cidade super agradabilíssima com uma bela extensão de praia e o melhor de tudo: muito mais sossegado que Los Angeles! O único inconveniente é que o aeroporto fica dentro da cidade e o barulho do avião acaba perturbando a paz.

Engraçado que eu moro numa cidade onde há praia. Eu corro na praia, vejo a praia, mas não me sinto na praia. Só fui perceber isso em San Diego.

Diria que San Diego foi uma grata surpresa para fechar as nossas férias. Talvez mais um dia ali fosse uma boa para aproveitar melhor o local, mas não tínhamos mais tempo.

No dia seguinte iniciamos a longa jornada de volta. De San Diego rodamos até Las Vegas novamente e no dia seguinte pegamos o voo de volta ao Brasil naquele mesmo esquema de pinga-pinga…

Pier de San Diego.
Amanhecer em San Diego.
Amanhecer em San Diego.

Comentários

4 respostas em “Califórnia 2022”

Incrível, japa, fotos lindas demais, a ArimaTur se superou nesse roteiro, dava pra vender uns ingressos hein.

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