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Efeito Borboleta

Viajando um pouco:

PS: se não quiser, pule 2 parágrafos!

Todos os dias tomamos decisões, do mais simples ao mais complexo. Desde: o que vou comer no café da manhã? Até: Onde irei investir o meu dinheiro? Passamos o dia, meses, anos, a vida inteira fazendo escolhas. Essencialmente, as nossas escolhas são baseadas entre razão e emoção. O Homem evolui ao longo dos anos usando basicamente a emoção e somente nos últimos séculos, aprendemos a usar a razão. E no momento que a humanidade começou usar a razão, evoluímos (ou não) de forma exponencial, se destacando de todos os outros seres que habitam a Terra. Esse aparelho que você está lendo o post é, sem dúvida, um exemplo do fruto da capacidade de usar a razão para criar algo.

Aprendemos desde cedo a tomar as nossas decisões usando a razão, embora a emoção seja importante, afinal de contas parte da evolução humana está enraizada nela. Quando estamos escalando, tentamos tomar as nossas decisões sempre da forma mais racional possível, deixando de lado o emocional, mas quantas vezes nos deixamos levar pela emoção e acabamos tomando “decisões emocionais”? E o pior é que, às vezes, ainda dá certo! Tipo, você está escalando uma via e sabe que a próxima agarra tem que ser com a mão esquerda para fazer a sequência correta (razão), mas você acaba entrando com a mão errada por puro “instinto” (emoção). Em geral, esse tipo de decisão não dá certo, mas às vezes, o movimento instintivo, “polido” durante milhares de anos da evolução humana, ou por pura sorte mesmo, se mostra acertada e você descobre, por exemplo, que a sua leitura estava errada e que tinha que ter entrado de mão esquerda por causa de uma agarra escondida. Afinal de contas, a razão também erra!

Expresso de Shangai

No sábado passado, voltei a entrar numa via que tinha equipado em 2012 no Calogi. Trata-se da via “Expresso de Shangai”. Uma via de 30m que fica à esquerda da “Maria Fumaça”. Uma via de puro reglete machuquento num granito preto e podre, sem descanso decente até uns 20m. Na época, não suportei a dor dos regletes e acabei deixando a via de lado. E numa decisão “emocional” abandonei o projeto. Mais recentemente, o “Lequinho” entrou no projeto e depois de quebrar mais uma meia-dúzia de agarras, mandou o projeto propondo 9b para via. Assim que fiquei sabendo do FA, pensei novamente na via, dessa vez, usando a razão e deixando a emoção um pouco de lado. Pensei comigo mesmo: escalei na semana passada tão bem as vias longas do lado. Será que não irei me sair bem no 9b? Será que em 8 anos não aprendi a assimilar a dor das agarras de Calogi? Será?

Entrei na via depois de 8 anos. Tirei todas as passadas novamente, mas fiquei sem pele para tentar uma entrada “para jogo”. Calogi tem dessas coisas, tem que saber gerenciar a pele. No entanto, fiquei feliz com os resultados. Descobri que as agarras nem machucam tanto quanto imaginava e vi que a via é muito legal porque são 30m de puro reglete, sem descanso decente diferentemente das vias do lado. Quanto as agarras podres, aprendi que aquilo faz parte da via e preciso aprender a discernir as agarras corretas.

Flor do Brasil

Já no dia seguinte, voltei para uma falésia que tinha visitado pela primeira vez em 2009, eu acho. Na época, fui com a indicação do Dunada que tinha me falado de uma parede com grampos perto de Apeninos. Quando cheguei lá, vi os tais grampos numa parede laranja e rapidamente avaliei (emotivamente) que ali não teria potencial. Basicamente olhei para parede e não gostei, sem motivo aparente. E numa mais pisei lá.

Mais recentemente, os escaladores da região voltaram a frequentar essa parede, inclusive abrindo novas vias. O próprio Dunada falou para mim que valeria a pena eu voltar lá para olhar com outros olhos. Tentei deixar a emoção de lado e usando a razão, resolvi dar uma “segunda” chance e rodei 3h de carro num esquema de bate-volta com a Yasmin até Castelo.

É engraçado como nós evoluímos e aprendemos a ter novos olhos com o passar dos anos. Para mim ficou muito claro que “descartar” uma área é apenas uma questão de tempo. Você pode achar um lugar ruim naquele dia, mas nada impede de voltar depois e reavaliar a pedra.

Quando chegamos na base da via, os meus olhos se voltaram para um belíssimo teto com agarras que gritavam aos olhos e dizia: abra uma via aqui!!!! Fiquei pensando: como eu não vi isso na primeira vez? Está tão claro e elementar! Mais tarde continuei divagando: e se naquele dia, em 2009, tivéssemos investido nessa pedra? Será que teríamos Apeninos? Será que o Calogi existiria? Ter deixado de lado foi a melhor decisão? O fato de não ter equipado esse teto permitiu desenvolver Calogi? Será esse um “efeito borboleta”? É claro que nunca saberemos a resposta, pois embora a vida ofereça opções, só conseguimos segui-la por um caminho.

Divagações à parte, acabamos equipando o “teto descarado”. E posso garantir de forma “emotiva” que a via é absolutamente incrível! Na parede do Tonho abrimos umas vias que passam por teto, mas essa é mais ainda! É uma sequência de movimentos com os “pés na nuca”. Na verdade é uma sequência de 3 chapas em travessia com muito heel e toe hook até a borda do teto para encarar um boulder de virada no final. Belíssima! Quanto ao grau, sugeri 8b para começar a conversa. Talvez seja um pouco mais, mas como estava cansado do dia anterior e o calor estava nos “cozinhando”, achei que poderia superestimar a via dando 8c ou até mesmo 9a. Porque na hora do “pega para capar”, juro que fiz força de 9a!

Provando o teto. Foto: Yasmin.

Já o nome da via “Flor do Brasil”, foi uma homenagem à Yasmin que… Ah, deixa para lá. Quando vocês a encontrarem pergunta para ela. Só adiantando que “Flor do Brasil” é uma cachaça super famosa que tem em Castelo.

Coincidentemente, nesse mesmo dia, conhecemos um ex-escalador local chamado “Cleiton” que fez parte da primeira geração de escaladores de Castelo. Inclusive foram eles os primeiros conquistares dessa falésia, além de terem batido alguns grampos antes de nós em Apeninos. Foi bom ouvir e resgatar um pouco as histórias dos primórdios da escalada na região. .

Abaixo segue um esboço das vias que já tem no local.

Por fim, agradeço o DuNada pelo convite e pelo processo de convencimento; a Yasmin que foi de co-piloto, sem dormir, e ainda mandou um 7b irado; e o “Noturno” que apareceu de pós-ressaca no final.

Comentários

2 respostas em “Efeito Borboleta”

IUHULLL valeu mestre!! Esse final de semana tem história kkkkkkk é noizzz, essas barca doida do arimatour

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