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Indiada nível 4

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Cinco Pontões.

As nossas indiadas (ou escaladas) semanais poderiam ser classificadas em níveis, de 1 a 5. E a nossa última poderia ser um nível 4!

Estava tudo acertado, desde a 2a feira. A escalada do final de semana seria repetir a variante dos cariocas + original do “Filhote da Foca” nos Cinco Pontões em Itaguaçu!

Na 6a feira, o Danilo “Monstro” entrou na barca de última hora. Assim, a equipe seria os três de sempre, mais o sherpa novato.

No sábado pela manhã, enquanto todos nós descansávamos para o pior, descubro pelo Facebook que o sherpa novato estava em Calogi, dando uma escaladinha… Quanta disposição, ou quanta inocência…

À tarde, às 15h passei recolhendo a galera e partimos rumo aos Cinco Pontões.

Chegando lá, fizemos aquele check-in básico na casa do Alemão que desde sempre recebe a galera da escalada por aquelas bandas. Infelizmente ficamos sabendo que ele faleceu naquela semana em decorrência de um problema de saúde que ele tinha há algum tempo…

Não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Na última vez que estive por lá, não o encontrei por um detalhe, acabamos nos desencontrado. Mesmo assim, nunca é fácil aceitar a perda de uma pessoa… Talvez porque eu já tenha passado por uma experiência parecida e sei o quão duro é a perda de uma figura paterna na família…

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Nos despedimos da família e partimos para a montanha à noite, pois a nossa intenção era bivacar na base da via para começar a escalada bem cedo no dia seguinte.

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Noite estrelada nos Cinco Pontões.

Quando você caminha à noite, num lugar que você não conhece, só pode acontecer uma coisa: se perder. E foi isso que aconteceu. Nós nos perdemos no pasto!!! Se perder à noite não é tão ruim assim. Ruim é se perder à noite com mochila pesada nas costas em um terreno inclinado! Isso sim que é roubada. Pior foi para o nosso sherpa, novato, caminhão-pipa “Monstro”… Quem mandou escalar no Calogi…

Depois de perambular um pouco finalmente nos orientamos pelas estrelas (mentira!) e achamos o rumo do acampamento!

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Bivaque na caverna. 

Não preciso nem dizer que a noite foi mal dormida.

No dia seguinte acordamos antes do amanhecer e partimos para a base da via. Segundo o croqui e pelo relato no blog Baldin, a saída da via começa num lance de 6o grau em móvel e depois sai em artificial móvel (A2+) até a P1.

Entrei no lance em livre e de cara já deu para notar que a rocha era pobre e que a laca não era nada boa para proteger. Fiz uma pequena travessia à direita e cheguei na base do artificial. O lance começa em píton lâmina num negativo estranho com a última proteção a uns 4m para o lado. Para a minha ingrata surpresa descubro que a fenda de tanto colocarem e tirarem os pítons acabou expanando e os pítons que nós tínhamos não davam “tração”. Equalizei 2 pítons e subi nele para visualizar o lance seguinte. Ai descubro que a fissura acima era mais estreita do que imaginara e nós não tínhamos peça para aquele tipo de fissura (micro-nut e micro-friends). E assim, infelizmente a nossa brincadeira acabou por ai mesmo… Descalamos todo o lance e fomos embora da montanha por volta das 9 horas da manhã.

Não foi a primeira vez que desisti de uma via, nem será a última, mas sempre é muito ruim desistir de uma escalada. É difícil aceitar a derrota, assim como é difícil tomar a decisão de dar meia-volta, mas quando a gente se propõe a escalar perto do nosso limite corremos o risco de fracassar.

Mas a vida segue e como ainda era cedo, partimos para Praça Oito tentar liberar a via “Pais e Filhos”, uma via que nós abrimos no ano passado, mas que não foi totalmente liberada.

Na minha concepção, conquistar é uma coisa, praticamente uma outra modalidade; e repetir uma via é um outro jogo totalmente diferente de conquistar. São praticamente duas coisas diferentes em uma única via. E para mim, a história de uma via só acaba depois da repetição integral em livre.

Rodamos mais 1h30 de carro até chegarmos na base da via num calor que beirava o insuportável. A essa altura o sherpa novato começou a apresentar os primeiros sinais de estafa e abatimento. Quem mandou escalar no Calogi antes de uma trip dessas…

Confesso que nessa hora eu fiquei na dúvida se iríamos escalar sob aquelas condições. A pedra fritava com o calor e parecia que ela tinha uma outra coloração de tão quente que estava.

Assim que começamos a separar os equipos sentimos falta da Gopro, de uma headlamp e uma bandeira de um dos apoiadores do Afeto. Reviramos o carro e chegamos a conclusão de que eles ficaram na base da via em Cinco Pontões!!!!!!!

Como o DuNada não estava nada animado em escalar naquele calor, ele se ofereceu para voltar sozinho até os Cinco Pontões, refazer toda a trilha para pegar os equipos enquanto nós fossemos fritar ao sol.

O DuNada se foi e nós partimos para a pedra.

Quando chegamos na base da via eu estava absolutamente morto! Noite mal dormida, escalada fracassada, caminhada, rodar 1h 30, caminhar ao sol do meio-dia… Tudo isso estava cobrando o seu preço. Por mim desistiria naquela hora, mas o Afeto falou: Então bora! E parece que a motivação voltou e partimos para encarar mais 350m de via.

Escalamos voando as duas primeiras enfiadas que são bem fáceis e o “Monstro” pegou a 3a enfiada de 6o grau.

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Monstro no começo da 3a enfiada.

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Em busca da primeira chapa que não chega nunca…

A 4a enfiada de 7o grau ficou por conta do Afeto que teve que lutar contra a via e a sapatilha apertada numa mega esticada de 65m de corda.

Peguei a 5a enfiada que é para ser o crux da via com uns 50m de extensão e dois crux’s de 7o grau. Sou suspeito para falar, mas essa enfiada é uma das melhores que eu já fiz, um belo teste de paciência e “balance”. E um pouco de oração para não quebrar nada…

A 6a enfiada ficou novamente com o Afeto que coube a ele a incumbência de liberar o trecho em artificial. Para a sorte da nação, ele achou uma passagem bem mais tranquila pela esquerda e acabou liberando o único trecho que era em artificial da via.

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Afeto na saída da 6a enfiada.

A última enfiada foi só um protocolo que o Afeto cumpriu de pés descalço mesmo e assim batemos no cume da pedra por volta das  17h.

Fizemos aquela foto básica no cume e descemos!

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Ah sim, o Monstro ficou pelo caminho, passou mal na 5a enfiada e ficou nos esperando no platô. Quem mandou ir para o Calogi…

Falando em Calogi, abrindo um parênteses, o meu bruxo Felipe Sertã mandou nesse domingo a via Batida Macabra, um 9a clássico de Calogi.

Às 19h estávamos todos nós reunidos novamente no carro. O DuNada com os equipos esquecidos e nós quebrados, mas com a satisfação de ter liberado todas as enfiadas da via.

A partir dali, não me lembro de mais nada porque capotei no carro e só lembro de ter chegado em Vitória às 23h.

Valeu Monstro, Afeto e DuNada! Equipe!

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