Parede dos sonhos

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É por essas e outras que escalamos montanhas! Pôr-do-sol nos Cinco Pontões visto da Parede dos Sonhos.

Persevere que triunfarás! Foi mais ou nesse espírito que voltamos, nesse final de semana, pelo terceiro final de semana consecutivo, a Itarana para tentar terminar a via que começamos no final do mês passado. Investida passada aqui e a retrasada aqui!

Passamos a semana inteira estudando a previsão do tempo e vimos uma boa oportunidade para o sábado. Era a brecha que o São Pedro estava dando para nós! Então partirmos, eu, o Sandro e o Zé ainda na 6a feira rumo a Itarana, assim poderíamos começar a escalada no sábado bem cedo.

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No campo-base avançado!

No sábado, acordamos de praxe às 5h30, tomamos um café sem açúcar e partimos pela “estrada dos carrapatos” de carro. E mais 15 minutos pela trilha dos cristais (de quartzo) e chegamos na base da via. Dessa vez, tudo conspirada a nosso favor, céu de brigadeiro e sombra o dia inteiro na parede. Fizemos a ascensão pelas cordas fixas que ficaram 3 semanas ao vento e rapidamente chegamos na P3 para dar continuidade a conquista.

O Zé puxou a quarta enfiada conquistando um belo arco em diedro à esquerda totalmente em móvel até virar o grande teto e bater na P4 em móvel.

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Sandro recolhendo as costuras do grande teto.

Depois, assumi a ponta da corda e toquei mais 40m protegendo em árvores e fendas até a P5, sem antes passar por um trechos estranhos e um pouco deteriorado.

Na P5 fizemos uma pequena reunião e concluímos que, se a via quisesse receber mais repetições, seria prudente dar uma melhorada nas paradas. Assim, desci da P5 até a P4 para bater uma parada dupla, pois a P4 em móvel era muito perigosa por causa dos blocos suspeitos. E também melhoramos a P5, em móvel, batendo uma parada dupla para poder descer da via sem ter que abandonar material.

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P4 devidamente arrumada. Assim ninguém vai precisar mais montar a parada nos blocos suspeitos.

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Zé dando segue na P5, antes de bater os grampos da parada.

Casa arrumada, o Sandro pegou a ponta da corda e foi para o trecho final, a virada do cogumelo. Essa virada se mostrou o grande crux da via,  dificuldade na casa do 6o grau em negativo com muitas proteções marginais e muitos blocos suspeitos. Passado o lance, mais alguns trechos estranhos, muita proteção natural e cume após esticar 65m de corda (para o desespero dos paulistas).

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Sandro no crux da via. O segredo ali é botar várias peças para, em caso de queda, alguma peça segurar a queda.

O cume não era virgem como de se esperar, mas tínhamos aberto a primeira via na “Parede dos Sonhos”  e batizamos a via de “Sonho Molhado”. Segundo a versão oficial, é uma alusão a parede dos sonhos com as várias chuvaradas que tomamos.

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Zé jumareando com haulbag nas costas. O que cansa, fortalece!

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No cume da pedra. Hora de pensar: como vamos descer agora?

Mais uma vez consideramos prudente dar uma melhorada na via e resolvemos quebrar a última enfiada de 65m em 2 partes batendo uma parada dupla logo depois da virada do cogumelo. Batemos a parada e descemos pela via felizes por ter concluído a grande saga das chuvas.

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Descendo pela própria via.

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Pela “Trilha dos cristais” a noite.

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O conceito de luxo é muito relativo. Nosso hotel 5 estrelas!

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Dividindo o hotel.

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Para ficar antenado.

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Para enfrentar a “trilha dos carrapatos”.

No domingo, já com a cabeça feita pela conquista do dia anterior, voltamos novamente para a Parede dos Sonhos para entrar sem compromisso numa outra fenda à esquerda da via. A ideia era subir e ir vendo. Da base conseguimos traçar uma linha passado por várias fendas separadas por algumas trechos de blanket. Era pagar para ver!

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Parede dos sonhos. Estudando as linhas. Não, nas de luz!

Subimos sem compromisso. Abri a conquista conquistando uma bela laca de uns 20m totalmente em móvel fechando a enfiada com uns 35m num confortável platô. Dali vimos duas fendas subindo. A fenda da esquerda era mais dura e mais audaciosa e a da direita mais tranquila, mas acabava num “nada” a uns 30m, até o começo de uma outra fenda. Como a fenda da direita era muito chamativa, entramos nela com o pensamento, “ depois a gente resolve o que fazer com o trecho sem fenda”.

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Zé no trecho final da 1a enfiada pelas lacas.

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Duplicando a parada à moda antiga, ou pelo jeito mais justo.

O Zé assumiu a ponta da corda e conquistou um belo trecho de uns 20m em móvel até a fenda sumir de vez. Ali batemos a P2 e ficamos olhando para cima. Com o tempo, os olhos começaram a se acostumar com a pedra e as agarras foram surgindo e finalmente conseguimos ver uma possível passagem até a outra fenda.

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Fenda gostosa e tranquila, até ela acabar… “Foi bom enquanto durou” porque depois vem bomba.

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Estudando…

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Varal.

Assumi a ponta da corda e me lancei num dos trechos mais verticais da via, sempre nos cristais e buscando os batentes camuflados. Embora cansado do dia anterior, a conquista fluiu bem e rapidamente cheguei na P3, fechando uma bela enfiada de 6o sup de uns 35m. Modéstia à parte, essa enfiada está entre umas das 5 melhores que já tive a oportunidade de escalar/abrir. Cristais sólidos, lances atléticos, viradas de teto e uma pequena dose de adrenalina coroam a enfiada dos sonhos.

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Sandro provando a “enfiada dos sonhos”. Sem trocadilhos…

Pelo adiantado do horário, descemos da P3, na base da outra fenda, com tudo engatilhado para uma próxima investida. Dessa vez, não deixamos nenhuma corda fixa para não ficar na obrigação e rapelamos curtindo um belo pôr do sol (foto que abre a postagem).

Agradecimento ao Zé e o Sandro por dividirem a corda e os momentos de descontração na montanha! E ao Sr. Dal Col por sempre nos receber no sítio e deixar dormir na varanda.

Croqui da via “Sonho Molhado” (à direita) e do projeto (à esquerda).

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1a enfiada – Enfiada em aderência com agarras protegendo em 3 árvores. Parada em móvel (peças médias) num platô razoável. 45m.

2a enfiada – Começa protegendo em móvel por uma fenda e depois entra na face. Protege em três chapeletas de inox e cai num grande platô. A parada pode ser feita nas árvores, mas é mais confortável montar uma parada em móvel (peças pequenas a média). 35m

3a enfiada – A enfiada segue por uma fenda frontal bem óbvia que no final arqueia à esquerda. A parada móvel (peças pequenas) fica um pouco antes de entrar na mata, num pequeno platô. 25m. Há a possibilidade de juntar a 3a e a 4a enfiada.

4a enfiada – Trecho curto de uns 15m até uma árvore grande. Há a opção de fazer a parada um pouco mais acima para ficar num lugar menos desconfortável (parada móvel). A dica aqui é não ir pelo mato, mas sim continuar seguindo a fenda. É mais difícil, mas é mais legal!

5a enfiada – Enfiada em arco num diedro em móvel passando por baixo do grande teto. A P5 (fixa) está depois da virada do teto. 20m

6a enfiada – Enfiada segue reto para cima, com proteção móvel e ancoragem natural, ora escalando na pedra, ora no mato. No trecho final, depois do diedro, a rocha está bem decomposta. Atenção redobrado para não derrubar nada no segue. Parada fixa num platô confortável. 35m

7a enfiada – Enfiada crux. Sobe uma rampa e depois vira um negativo com rocha suspeita e proteções marginais. Expo! Depois, passa para a fenda da direita até a parada fixa (2 grampos de inox). 20m. Há a opção de juntar a 7a e a 8a enfiada, mas a comunicação fica muito comprometida.

8a enfiada – Escalada tranquila pela canaleta e face protegendo em móvel até o cume. Parada natural equalizada em várias árvores.

Descida

Do cume, em ancoragem natural, rapelar com 2 cordas até a P7.

Da P7 até a P6 com uma corda.

Da P6 até a P5.

Da P5 até a P3 de uma outra via que fica à esquerda da Sonho Molhado (55m). Vide croqui.

Da P3 até a P2 da outra via (30m).

Da P2 até o chão (60m).

Equipos para repetição

  • 2 cordas de 60m;
  • 2 jogos de friends ( 01 #C3 até #4 Camalot ou equivalente);
  • 1 jogo de nuts;
  • Muitas fitas.

Dicas

  • Tirando os grampos e chapeletas das paradas, há apenas 3 chapeletas na via. Todas na 3a enfiada.
  • A via requer um bom conhecimento do uso de equipamento móvel, principalmente para montar a parada móvel;
  • A rocha no crux, 7a enfiada, é bem suspeita. Usar o máximo de peças para proteger o lance;
  • A face fica voltada para o sul. Durante o inverno, não bate sol o dia todo;
  • Costuma ventar bastante e fazer um pouco de frio, levar anorak;
  • As chuvas passageiras, normalmente vêm de sul e as chuvas mais intensas de norte. Observe sempre a direção dos ventos.

Atualizado em 25/02/2015 – Para informações mais atualizadas, clique aqui!

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