Vale da Prata, Castelo. Sou suspeito para falar, mas esse lugar é impressionante! Bem à esquerda, a Pedra do Dedo; logo em seguida a Pedra da Bandeira; e à direita, a Pedra da Onça. Todas com via concluída ou em andamento.
Plano A,
Terminar a conquista da via “Última Cartada” (Pedra São Luis, Castelo) que tínhamos começando no final do ano passado. A via está praticamente pronta. Já passamos o crux da pedra e agora está faltando “só” mais uns 180m de “terreno fácil” para batermos no cume. Mas o crux da via está em repetir todas as outras 8 enfiadas em livre, já que não deixamos corda fixa, para continuar a conquista.
Por aqui, a semana foi bem chuvosa. As famosas chuvas de março atrasaram e elas só chegaram em abril. Mas nós temos um “serviço de inteligência” espalhado pelo estado que nos ajuda a passar as condições do tempo nas principais áreas de escalado em tempo real. E segundo uma dessas fontes, após uma noite chuvosa, o tempo abriu totalmente no sábado a tarde e a previsão era de que no domingo o tempo seria igualmente muito bom em Castelo.
E assim, confiantes na informação da nossa fonte secreta, partimos no sábado, às 17h, eu, Afeto e DuNada “Federal”, rumo ao sítio da família Laquini que fica na base da Pedra São Luis.
Como chegamos a noite, não conseguimos avaliar a pedra, mas segundo o pessoal, fez bastante sol no sábado à tarde e a pedra estaria seca. Assim, fomos dormir confiantes de que no dia seguinte rolaria a continuação da conquista.
Lá pela meia-noite, para a nossa infelicidade, o tempo virou e começou a chover forte por quase uma hora. No meu consciente sabia que isso seria o fim da escalada, mas eu tinha uma esperança, lá no fundo, de que ainda assim seria possível de escalar no dia seguinte.
No dia seguinte, acordamos conforme o combinado, às 5h. Ainda no escuro, sem ver a pedra direito, tomamos o café da manhã e partimos para a pedra de carona, na Rural do senhor Laquini.
Pedra São Luis ao amanhecer, ainda com estrelas no céu.
Assim que vimos a pedra, a cena foi de chorar: a pedra chorava por todos os lados, principalmente nas primeiras cordadas. Ainda assim fizemos a aproximação para tocar na pedra e ter a certeza absoluta de que não teria como escalar.
Desistir nunca é fácil. Saber a hora de dar a meia volta, mais ainda. Quando escalamos uma via esportiva, a gente só desiste quando cai. Até lá, a gente vai se puxando até o limite, mas na montanha, numa via tradicional, a coisa é mais complicada. Na montanha, não podemos nos dar ao luxo de ir subindo até cair sob o risco de se machucar de verdade.
Para mim, desistir sem ao menos tentar é muito difícil de aceitar, mas é um aprendizado que se faz necessário se quiser sobreviver na montanha. E confesso que ainda estou aprendendo a assimilar essa sensação desagradável e a entender que quem manda é a mãe natureza e que nós somos meros coadjuvantes.
Descemos de volta e partimos para o plano B!
Plano B, carregar pedras!
Como tudo estava molhado, resolvemos ir até a Falésia de Apeninos arrumar a trilha para a Abertura de Temporada que acontecerá em maio. Na verdade, nós não arrumamos a trilha, nós literalmente pavimentamos a trilha com pedras ao melhor estilo Estrada Romana.
Primeiro refúgio de montanha do estado aos pés do Lagarto de Apeninos.
DuNada trabalhando na construção da Estrada Romana. Um italiano não pode ver uma pedra rolando que logo quer fazer uma taipa…
Após uma manhã inteira carregando pedras finalizamos os trabalhos. E num momento de devaneio, olhamos para o lado e visualizamos uma linha em potencial! Não tivemos dúvida, buscamos a furadeira e lá fomos nós equipar mais uma, duas, três vias!
Após algumas horas de trampo nasceram as vias: Dama (5o), Copa Valete (8o) e Rei (projeto), ao lado esquerdo do setor do Totem!
Afeto equipando a via “Dama”, um 5o grau segundo ele, mas eu, só vendo, acho que vale no mínimo um 6o grau, à confirmar…
Não satisfeitos, às 16h guardamos tudo e partimos para o Furlan terminar o último trampo do final de semana: Preparar as ancoragens para o highline que será montando durante a Abertura de Temporada.
Batemos as chapas e fomos bater o famoso prato de feijão da família Furlan para fechar o final de semana com chave de ouro.
Depois foi só entrar no carro e fazer uma digestão de 3h até Vitória!
Croqui atualizado do lado direito da Falésia de Apeninos. As novas vias são as vias 16, 17 e 18. Para ver o croqui completo, clique aqui!