Essa semana, compromissos familiares me levaram de volta à querência amada, o Rio Grande do Sul. E na sexta-feira, Dias das Crianças, marquei uma escalada com o “Sucrilhos” para conhecer o Spiderbox, o mais novo espaço de escalada dentro de Porto Alegre. Trata-se de um empreendimento formado por ele e pela família Nicoloso que tem como propósito ser um espaço para treinamento de escalada de alta performance.
O muro é, como o nome sugere, uma “caixa” com um módulo negativo de um lado e aderência do outro. No entanto, o grande diferencial do espaço está nas agarras, em sua grande maioria importadas. Ou melhor, trazidas dentro de malas da Europa. Só quem já trouxe agarras na mala sabe o quão trabalhoso é… Noventa porcento dessas agarras são de pega ruim à impossível. Fazer uma resistência de 30 movimentos? Quase impossível!
Já conheci alguns muros de escaladas pelo mundo, mas esse em particular realmente chama a atenção nesse detalhe. Mas é claro que com um pouco de tempo e jeito, vai se adaptando às agarras e pegando a maldade e logo a escalada começa a fluir mais naturalmente.
Fizemos uma seção de umas 2h de boulder. Como o espaço tem um negativo num lado e positivo no outro, quando cansava os braços, a gente “descansava” fazendo boulder de equilíbrio no outro lado. Não que as aderências fossem fáceis…
Eu tenho a teoria de que fazer um muro de escalada é relativamente fácil. Na verdade, não é bem assim, pois desenhar um muro funcional é bem complicado, mas o processo de construção é algo que está “paupável”. Já as agarras são o grande “gargalo” da escalada no Brasil. Atualmente já temos mais de uma meia-dúzia de fabricantes no país, mas ainda falta “rotatividade” das agarras, em parte, provavelmente pela baixa demanda. Enquanto lá fora, alguns países da Europa e Japão, as agarras “rodam” mais nos muros de escalada, aqui, ainda usamos agarras de 20 anos atrás. No muro da ACE em Espírito Santo, por exemplo, ainda tem agarras fabricadas em 2001 sendo usadas. Digo isso, porque em 2001, comecei a fabricar agarras (Agarras Sauro), justamente para tentar suprir essa necessidade. E de lá para cá pouca coisa mudou. A impressão que eu tenho é que o mundo evoluiu e o Brasil ficou para trás (não só na escalada). Por isso, se quisermos ficar na “crista” da onda, precisamos, no mínimo, trazer agarras nas malas para não ficar muito atrás. Mas quando vejo espaços como esse ou a Fábrica de Agarras que conheci recentemente em São Paulo, tenho a impressão de que, ainda que atrasado, estamos remado para não perder a onda.
2 respostas em “Spiderbox”
Gostei muito da tua visão sobre a realidade da escalada brasileira, a qual vai ao encontro daquela do Pedro. É uma pena que a maioria dos escaladores estão acorrentados nas concepções antigas e não deixam brecha alguma para a evoluçao. Sinto muito por essa situação, mas continuo lutando para construir uma realidade que acompanha e evolução, seja em qualquer área do conhecimento.
Nos visite sempre. Abraço.
Boooa, meo! Valeu pela visita e volte sempre !!! ??