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Lições aprendidas

Ontem tivemos mais um caso de lesão (torção no tornozelo) em decorrência de queda do guia durante a escalada. Já me considero (infelizmente) quase um expert no assunto, afinal de conta depois de duas lesões graves nos pés, também em decorrência de queda, tenho uma boa bagagem de molho em meu currículo.

Analisando e refletindo o que aconteceu com o meu brother e comigo, dá para tirar (e compartilhar) várias lições importantes sobre o assunto:

1- Kit de primeiros socorros. Não precisa levar uma UTI para a montanha, basta uns dois rolos de atadura para imobilização, algumas compressas de gaze, esparadrapo e um anti-inflamatório tópico. Para a maioria dos acidentes (simples) de montanha, com esse kit básico dá para resolver muita coisa. É claro que dependendo do caso, esse kit pode ser pouco, mas se todas as pessoas tiverem um kit desses, na hora da emergência, juntando um pouco de cada, dá para fazer muita coisa.

Dica: se a preguiça de levar uma kit desses para a montanha for muito grande, que pelo menos deixe um kit no carro. Na maioria dos casos, a gente escala relativamente perto do carro, assim, em caso de emergência, é só descer até o carro para pegá-lo.

2-Torção de tornozelo. É uma lesão super comum, seja escalando ou mesmo caminhando numa trilha com uma mochila pesada nas costas. Quando torcemos o pé, ocorre o estiramento parcial ou ruptura total dos ligamentos. A primeira a coisa que NÃO se deve fazer é apoiar o pé lesionado no chão, pois isso agrava demais a situação. Não tente achar que vai conseguir caminhar com uma bola de tênis no tornozelo. No calor da hora, com a adrenalina à mil é bem possível que consiga caminhar, mas não faça isso, nunca! Coloque os pés para cima e aplique gelo (se tiver) ou um anti-inflamatório tópico (uso Salompas) para aliviar o edema. Em seguida o ideal é imobilizar o tornozelo (com aquelas ataduras) para evitar qualquer movimento e só depois disso providenciar o transporte.

3- Sobre o transporte. Todo escalador deveria saber, pelo menos em tese, transportar uma pessoa. É claro que há casos em que a melhor coisa a fazer é deixar isso para uma equipe especializada, mas se for só uma torção, dá para transportar uma pessoa. Há uma série de técnicas de transporte que podem ser aplicadas, desde usando a própria corda de escalada até carregando no ombro. O que precisa ser considerado nesses casos é que, qualquer que seja o método escolhido, o transporte exige muito esforço físico. Por isso, quanto mais pessoas ajudando (revezando) melhor!

Sendo resgatado pelo “YOSAR” capixaba na Praia dos Padres em 2009 após torcer o pé fazendo boulder. Foto: Caio Afeto

4- Evitando impacto. Uma parcela dos acidentes com lesão (torção) acontece no momento do impacto do guia contra a pedra. Às vezes, não há muito que fazer, mas na maioria dos casos é totalmente possível reduzir ou até mesmo anular esse impacto com a pedra “dinamizando” a segurança.

Muitos segues, na hora da queda, praticamente se chumbam no chão erroneamente para segurar o impacto e acabam chapando o escalador contra a pedra. Inclusive já ouvi gente falar que a eficiência do segue está em quanto o segue consegue ficar chumbado no chão com o impacto. E que quando o segue é arrancado do chão, é sinônimo de segue mal dado. Na verdade, o segue só é arrancado do chão quando está mal posicionado (longe da pedra, deitado na rede) ou quando dinamiza a queda. Por isso, o correto seria, em vez de se chumbar, absorver o impacto da queda dando um pulinho para frente/cima no momento exato do baque. Com isso, em vez de o escalador se estatelar contra a parede com tudo, tem uma queda mais suave e acaba, às vezes,  nem batendo contra a pedra.

Algumas pessoas ensinam a dar segurança dinâmica deixando correr (!!!!) um pouco de corda para absorver o impacto. Mas essa é uma técnica que era usada nos primórdios da escalada quando se dava segurança de corpo. Hoje em dia, com a tecnologia que temos, diria que isso é praticamente obsoleto. Além do mais, nunca vi alguém fazer isso com sucesso usando um ATC, uma corda 9.2mm e com um nego voando 5m… Também nem tentem fazer isso!


Felipe Alves atento na segurança! Sempre com as mãos na corda, mesmo usando o Gri-gri!!!

Quando lançaram o Gri-gri, muita gente criticava (ou ainda critica) o Gri-gri por ser muito um freio estático. Na verdade, o que  determinar se a segurança será estática ou dinâmica  vai ser segurador e não o tipo de freio. É possível dar segurança estática com um freio dinâmico (ATC, plaqueta, oito) e vice-versa. Tudo vai depender da técnica do segurador.

Ah, no caso do meu amigo, não sei como foi a segurança, até porque não estava junto na hora da queda para poder falar qualquer coisa, mas o propósito do post é mais amplo e não julgar o fulano ou o ciclano.

Desculpem o post longo. Não gosto de ler posts longos e também não gosto de fazer o mesmo, mas quando se trata de segurança nunca é demais bater na mesma tecla.

Uma boa semana a todos!

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