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Recomendações para conquista de novas vias no ES

Conquistar uma nova via, seja uma tradicional ou esportiva, exige, além de muito investimento, tanto financeiro quanto de tempo, alguns cuidados importantes no que tange à ética e estilo local.

Aqui no Espirito Santo, indiferentemente de outras áreas do Brasil, não existe nenhum órgão regulador que norteia a conquista de novas vias. Existe a Associação Capixaba de Escalada (ACE) que é a entidade mais organizada e representativa do Estado, mas ela não tem a intenção de ser uma entidade regulatória. Assim sendo, em geral, as conquistas seguem a “ética universal da escalada” com alguns estilos locais.

O intuito desta postagem não é criar uma normativa, mas sim, servir de base para escaladores de fora que desejam conquistar novas vias, assim como os aspirantes a conquistadores.

Eric conquistando um trecho em móvel na Pedra Paulista, Itaguaçu.

1- Antes de iniciar uma nova via é recomendável fazer um estudo prévio para saber se já não existe uma via concluída ou iniciada na linha pretendida. Avaliando, por exemplo, a proximidade com outras vias e/ou cruzamento. Para isso, recomendo dar uma olhada na croquiteca deste site, na croquiteca da ACE e no livro Escalada Capixaba de Oswaldo Baldin. Nessas três fontes estão 99% das vias do Estado.

Esse é um tipo de problema que já tivemos em outras ocasiões por aqui, principalmente nas vias em móvel e/ou tradicionais com proteções esparsas, onde não tem como saber na hora se por lá passa alguma via. Por isso é muito importante se informar antes para não “re-conquistar” uma via já existente. 

Em relação às vias esportivas, existe um consenso dentro da comunidade local em relação a conquista de novas vias apenas no setor da Barriga, no Morro do Moreno, em Vila Velha, onde pedimos que não seja conquistada novas vias, uma vez que o setor encontra-se bem saturado. Nas demais áreas, não existe nenhuma recomendação, mas sempre é importante conversar com escaladores locais antes de iniciar uma via nestes setores, assim como seguir as recomendações de materiais a serem utilizados (vide abaixo).

Luciola escalando a via Demolidor (Vo), Setor da Barriga, Morro do Moreno, Vila Velha

2- Antes de acessar a montanha sempre procure o proprietário das terras onde se encontra a pedra para solicitar autorização. E deixe claro que outras pessoas poderão acessar a via no futuro. No Espírito Santo, em geral, não temos problemas de acesso em áreas particulares.

Os locais mais sensíveis que podem ter algum tipo de problema, ficam na região de Guarapari, junto a BR-101 e nas proximidades da Pedra Azul em Domingos Martins.

Conversando com o proprietário das terras antes de iniciar a conquista. Foto: Caio Afeto.

No Espírito Santo há três áreas de escalada que estão dentro parques: Pq. Est. da Pedra Azul, Pq. Est. do Forno Grande e Pq. Nac. do Caparaó. Nestas áreas, a conquista de novas vias é regida por regulamentos internos. Caso tenha interesse em conquistar, informe se com a administração do parque para obter autorização.

Pedra Azul, Domingos Martins.

3- Não cave ou cole agarras! O uso de cola (sempre Sika 32) é aceitável apenas para reforçar uma agarra que está por quebrar. Se este tipo de trabalho tiver que ser realizado, execute de forma que fique imperceptível. Se não tiver experiência, procure quem têm mais conhecimento.

Afeto escalando uma das raras vias com agarras cavadas em Afonso Cláudio (Esta via foi liberada sem as agarras cavadas).

4- Conquiste buscando o mínimo impacto. Evite linhas que transcorrem por paredes com muita vegetação e, se possível, estabeleça paradas fora dos platôs com vegetação.

5- Não coloque proteções fixas onde é possível proteger com material móvel. 

6- “Nenhum escalador possui o direito de reservar para si qualquer rota ou pedaço de pedra, somente se estiver colocando evidentes esforços para efetuação de seus objetivos, seja aproximação, ou colocação de grampos”. Bater uma proteção fixa na base da linha pretendida com intenção de reservar para si a via é uma atitude pouco louvável. 

7- Evite deixar desprotegido lances potencialmente perigosos, tais como travessias, situação de fator 2 e quedas em platô. Importante ressaltar que no Espírito Santo não há agrupamento de resgate especializado em operações de montanha e que qualquer tipo de intervenção desta natureza demanda muito tempo com grande possibilidade de ter que realizar por meios próprios.

Afeto conquistando em móvel na Pedra do Penedo, Itarana.

8-Duplique as paradas, evitando deixá-las simples.

Zé Márcio duplicando uma parada na Parede dos Sonhos, Itarana.

Quanto às proteções fixas: para grampos, a recomendação é que seja de inox com diâmetro de 1/2 polegada com pelo menos 4,5cm de penetração. Evite grampos de 3/8 pol. assim como grampos de aço galvanizado, pois mesmo longe do mar, a corrosão é bastante intensa em algumas áreas. Caso use chapeletas é altamente recomendado que seja de inox 304 ou 316 para áreas sob influência de maresia (considere 20km em relação a linha de costa). O bolt também deve ser de inox para evitar corrosão galvânica com diâmetro mínimo de 3/8 pol. por 2 pol. 3/4″. Em algumas áreas específicas de escalada esportiva, é possível utilizar chapeleta e bolt de aço, mas é preciso conhecimento prévio sobre o histórico do local para saber se existe problema de corrosão. Importante ressaltar que no Espirito Santo há o predomínio de silimanita-gnaisse (Complexo Nova Venécia) que tem alto potencial de corrosão, onde historicamente os grampos e chapeletas comuns não duram mais do que 2 anos. Caso não tenha conhecimento sobre a geologia, opte por chapeletas de inox.

Duplicando uma parada em Itarana.

Em geral, as vias do Espírito Santo são pouco repetidas ou até mesmo sem repetição. Caso abra lances com progressão em furos de cliff, dê preferência por parafusos de 1/4 para facilitar as repetições . Com o tempo, os furos tendem a sumir com a sujeira ou se esconder na vegetação.

Muita conversa franca e sincera com esse ganho. Conquista na Parede dos Sonhos, Itarana.

Outra particularidade das vias é que, em geral, as montanhas possuem uma “saia” de costão que é uma “escalaminhada” até ganhar inclinação suficiente para iniciar a escalada em si. Este tipo de feição dificulta a identificação do início da via. Sempre que possível construa um pequeno totem para facilitar as repetições posteriores e/ou tire uma foto do local. Caso tenha GPS, anote as coordenadas para compartilhar com a comunidade.

Aproximação em solo por um costão de aproximadamente 100m antes de acessar a base da via. Itarana.

Não existe restrição quanto ao uso de furadeira nas conquistas, assim como não há ética local sobre “rapel-bolting”  em vias tradicionais, embora 99% das vias tradicionais tenham sido conquistadas de baixo para cima, mesmo em linhas onde é possível acessar o topo de outra forma. Para as vias esportivas, normalmente, as conquistas são realizadas de cima para baixo (equipadas), visando sempre colocar as proteções nos locais chaves.

Afeto conquistando de furadeira em Itarana.

Conquista de vias ferratas é altamente desaconselhada, assim como a fixação de degraus metálicos, cabos de aço e corda fixa para auxiliar a subida. Isto se deve a impossibilidade da comunidade local em realizar a manutenção dos mesmos e por causar um impacto visual negativo.

Via ferrada nos Cinco Pontões.

Ao concluir a conquista de qualquer via, seja esportiva ou tradicional divulgue para comunidade, principalmente para os escaladores locais. No site da ACE há um canal específico para isso e qualquer pessoa pode alimentá-la.

Por fim, lembre-se de que você irá carregar a responsabilidade sob a via conquistada! Cabendo inclusive a realização de manutenção da mesma! Conquiste com responsabilidade!

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