Se você está procurando uma via tradicional mista com menos de 3oom para fazer em meio turno, e ainda na sombra, talvez esse post seja interessante!
No último domingo, Fred “Ibiraçu” e eu conquistamos a via batizada de “Obra do Acaso” na Parede Polese em João Neiva, com graduação sugerida de 4o, IV SUP, D2, E3, 215m.
“Obra do acaso” porque a escalada não foi combinada. No sábado fiz a minha “varredura” básica para saber quem iria escalar no domingo e acabei ficando sem parceria. Então resolvi dar um rolê na Parede Polese para ver uma linha que tinha visualizado no ano passado durante a conquista da Pedra Polese com o Iury.
Chegando lá, para minha surpresa, vi quatro cabeças escalando no setor Parque de Diversão, setor anexo ao Bloco Polese: o Iury, Fred e mais dois escaladores novos.
Fui ao encontro deles, falei das minhas intenções e estendi o convite. O Iury já está ficando calejado e não sai mais aceitando qualquer convite, mas o Fred, tadinho, ainda é bem inocente e fisgou a isca. Arrumou um capacete emprestado, contabilizou a água (700mL), pegou quatro mexericas e foi de bermuda procurar a base da via comigo.
A Parede Polese é, como qualquer parede do Espírito Santo, muito lisa e desprovida de fendas e fraturas, por isso buscamos a linha que tivesse a maior concentração de fraturas que pudesse ser conectada até o cume. Isso permite que a via tenha menos proteções fixas, mais móvel e proporcione uma escalada mais diferenciada, intercalando estilo e técnica ao longo da via, fugido um pouco do “mesmo estilo de sempre”.
Escolhemos a linha que passa por uma sobra de laca que desmoronou recentemente (no tempo geológico) e depois segue pela face até conectar com mais duas lacas perdidas na parte superior.
A parte da laca realmente ficou bem interessante e proporciona bons momentos de emoção e entalamentos sólidos. O lado ruim é que a laca está bem instável, parece que vai cair a qualquer momento, mas depois das lacas estranhas que andei escalando e protegendo em Yosemite, acho que ela ainda vai longe.
Após a sequência da laca, na 2a enfiada, toda em fixa, encontramos uma rocha de excelente qualidade repleta de agarras de verdade! Já abri mais de 70 vias tradicionais no Espírito Santo e essa foi a primeira vez que vi tanta agarra em uma enfiada. Reflexo disso está na quantidade de proteções fixas: quatro em 60m!
A segunda enfiada joga a via para direita, buscando um platô e tentando se alinhar com o diedro que tínhamos visto de baixo. Naturalmente o diedro da 3a enfiada é sujo, mas permite colocar umas peças e abraçar uns galhos como proteção natural. Momento Pimenta! Mais acima chegamos na outra laca que dava para ver de longe e consegui colocar mais umas peças, antes de esticar até a parada (P3).
A última enfiada ficou por conta do Fred que reclamou do lance crux da enfiada, mas no fim passou sem precisar bater uma chapa. Mais acima ele queria bater uma chapa e respondi:
– Não tem uma laca por ai para proteger?
E ele me respondeu:
– Tem uma laca aqui no meu lado!
Pronto, poupamos mais uma chapa!
Esticamos redondo 60m de corda e o Fred estabeleceu a parada num coqueiro e finalizamos a via. Comemos as mexericas, bebemos um pouco de água e iniciamos a descida!
A conquista levou 3h e meia e por volta das 13h30 já estávamos de volta no chão buscando uma sombra para nos abrigar porque o Sol estava implacável.
Lembrando sempre que essa via, assim como algumas outras, foram conquistadas com material subsidiado pela ACE que fornece material de conquista aos sócios.
Para ler mais sobre o local e a via, clique aqui!
2 respostas em “Obra do Acaso”
Irado demais parabéns, e eu aceitei o convite também kkk mas o Fredi tava na vez, escalar com o sensei é um privilegio não tem nem que escolher, tmj abraço.
Hahhhahha, vdd. Oportunidades não faltarão!