Corpus Christi

No último post, escrevi sobre retorno ao Totem de Lajinha (Pancas) e sobre a conquista da via “Mamãe não deixa”. Pois bem, no último sábado, voltamos, Iury e eu, novamente ao setor para tentar livrar a via.

Infelizmente, quando cheguei na P1 da via, descobri que o diedro da segunda enfiada seguia molhada. Na verdade, mais molhada do que da semana passada. Então, não tivemos outra escolha senão conquistar as outras duas fendas que estavam “caindo de maduro”.

Começamos por um grande diedro, à direita da Racha Cuca. A fenda parecia feia, suja e com muita vegetação, mas não é todo dia que achamos um setor com uma fenda no lado da outra, então resolvemos entrar, mesmo não sendo muito convidativa. Como a ideia era fazer um setor esportivo tradicional, propus subir os primeiros 30m e ali estabelecer uma parada para facilitar as futuras repetições. A conquista foi lenta devido à limpeza, mas uma vez limpa, a via começou a se mostrar bem estética. No trecho da chaminé estreita, tive que bater duas chapas por conta da largura da fenda e da qualidade duvidosa da rocha. Pelo menos o lance ficou bem protegido e divertido.

Uma vez limpa a via, desci sacando as peças e logo em seguida entrei para mandá-la. Presumo que a via seja um VI grau. Poderia dar V SUP, mas acho que seria muito sandbag.

Para repetir a via, levar: 2x Camalot #.4-#3. 3x #4 e 1x #5.

“Mamãe eu quero”. Foto: Iury.

Logo em seguida, fomos para o diedro ao lado. Essa linha parecia a mais dura de todas. Diedro de dedo em arco, garantia de sofrimento e muita dor na lombar.

Bati uma chapa logo na saída para proteger o lance e logo entrei no diedro. A fenda não é contínua, mas por sorte há muitas agarras por fora, o que ajudou bastante na progressão. 

Lá pelo meio da via, a rocha começou a ficar mais branda. Hesitei bastante, mas acabei batendo uma chapa porque achava que as peças não segurariam uma queda. Toquei mais uns metros e assim que achei uma boa quebra de sequência, estabeleci a parada.

Na descida, examinei novamente o lance da chapeleta e concluí que daria para passar sem ela. Então, resolvi sacar a chapeleta.

Descansei uns minutos e fui para o red point. O lance da chapa, resolvi com dois nuts que ficaram bons. Depois, foi só ir tocando.

Tecnicamente, a via não é dura, mas alguns esticões exigem uma certa confiança.

Para mim, é a via mais bonita do setor. E talvez uma das enfiadas mais bonitas e técnicas de Pancas. Inclusive, o nome “Gran Reserva” é uma alusão à qualidade e por ter deixada para o final.

Mais uma vez, seria um V SUP sandbag, mas como achei um pouco mais difícil do que a via Demolidor no Morro do Moreno, acho que VI seja de bom tamanho.

Gran Reserva (VI)

Para repetir a via levar: 1x #.3, 2X #1 e #2 e 3x #.4 – #.75. Além de dois nuts (usei offset) médios.

Quinta-feira

Na 5a feira, feriado de Corpus Christi, começou no Morro do Moreno, o Moreno Boulder, evento organizado pelo ginásio de escalada Toca que, além de trazer escaladores de fora do estado, trouxe diversas palestras e workshop

Participei somente no primeiro dia, onde conheci alguns dos boulders novos e clássicos antigos que ainda não conhecia. Destaque para o boulder Esmerilhando Dedo (V6)!

Jana mandado o boulder Esmerilhando Dedo (V6).

Domingo

Amanhecer em Pancas.

De sábado para domingo, fiquei no camping do Fabinho. A última vez que o vi, ele estava me carregando na maca pedra abaixo, então foi muito legal reencontrá-lo novamente.

Devido ao feriado prolongado, o camping estava cheio de escaladores, tanto do estado, quanto de fora (Minas e Paraná), então a noite foi bem animada.

No domingo, antes de ir embora, resolvi repetir em solitária a via “Canaleta Joinville” no Morro do Camelo. Escolhi essa via por ser mais curta e por curiosidade. Essa via foi conquistada em 2015 por um trio de escaladores de Joinville, SC. A via não é muito popular, mas ocasionalmente alguém repete.

Entrei meio tarde na via. Sai do camping às 7h45 e as 8h15 estava na base da via. O Morro do Camelo é uma das pedras mais frequentadas de Pancas, então a trilha está bem demarcada com totens, o que facilitou bastante a navegação. 

Na base da via.

Comecei a via por volta das 8h30 e toquei até a P3 num único tiro. Na P4 me encordei e toquei a enfiada das “dominadas”. Ali ficou claro que a pessoa que conquistou essa enfiada é bem mais alta do que eu. Sempre que chegava na agarra de costura, faltava envergadura para sacar a costura. Tinha que fazer mais um lance, sempre delicado, para conseguir colocar a costura na chapa. 

Enfiadas iniciais.

Quando repito uma via, tento entrar na mente do conquistador e imaginar no que ele estava pensando durante a conquista. Isso ajuda muito na navegação, mas confesso que nessa via tive um pouco de dificuldade para ler a mente do conquistador.

Na quarta enfiada, não consegui achar a 2a chapa da enfiada e acabei pulando ela. Fiz um balão pela esquerda porque simplesmente não consegui achar a chapeleta. Na descida para limpar a enfiada, achei a chapeleta num lugar que para mim não era muito óbvio, mas vida que segue.

Saída da 4a enfiada.

Dali para cima, a via voltou a ficar fácil e às 11h estava no cume do Morro do Camelo, após 2h30 de escalada. A essa altura, mesmo no inverno, o sol estava castigante e nem parei no cume porque a minha água estava no final. Fui direto para linha de rapel pela via Supercanaleta e às 11h40 cheguei na base, onde encontrei uma sombra providencial.

No cume!

Não sei se foi porque pulei uma chapeleta, mas achei a via um pouco exposta. Na terceira enfiada, tem umas dominadas de balcões que são estranhas, sempre com um platô descaído embaixo.

De qualquer forma, é mais uma opção de via para quem busca um D1 de meio-turno, sem precisar de móvel.

A volta para Vitória foi um suplício, levei mais de 4h por causa do feriadão, D2!

Amanhecer na estrada.

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